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VISLUMBRE

Atualizado: 24 de jul. de 2020

Por Liete Nascimento - 11 de julho de 2020



 

A quarentena causada pela pandemia do novo corona vírus nos impõe uma realidade outra, totalmente oposta a que costumeiramente vivenciávamos. Entre o fortalecimento de alguns laços e a dissolução de outros, nos encontramos aprisionadas à um cotidiano que por si mesmo dita as regras.


Mesmo nos mais conturbados contextos ainda nos restava um pouquinho de domínio sobre os tipos de relações que travávamos com o mundo, isso no que se refere a ocupação de espaços e interações que são geradas dentro ou fora deles. Facilmente podíamos decidir onde e quem nos acompanharia, bem como quem deveria permanecer nas nossas vidas. Por mais que esse novo cenário apresente uma possibilidade de reafirmar e fortalecer alguns vínculos, a impossibilidade de dizer não se torna um fator determinante, sobretudo porque mesmo no movimento de construção, a escolha ainda deve ser possível, ela é essencial.


Este é exatamente o momento da história em que todas as coisas que parecem simples, tornam-se complexas e cheias de força, de uma força que pode ser tanto de impulsão como de repressão. Apesar de estranho, devo dizer que a coisa que mais me falta agora é o poder de usar o sim e o não, ambos nos escapam, e é porque tudo parece soar como um imperativo, positivo ou negativo, não somos nós quem decidimos, as ordens nos chegam.


Creio que essa nova forma de existir e conviver com os que nos rodeiam agora (familiares, amigos, vizinhos...), será determinante na maneira com a qual passaremos a nos enxergar neste outro mundo vindouro. De fato, imprescindivelmente as coisas deixarão de ser como há três ou quatro meses, mas isso não significa que elas íam bem, é exatamente ao contrário, tudo já estava meio que saindo dos eixos.


Contudo, a necessidade de enclausurar-se consigo e com uns poucos, pode representar a chance de elaborar outros modelos de existências, desvinculados de todas as noções que nos definem. Reavaliando nossas relações interiores e exteriores, poderemos ser capazes de reordenar nosso cotidiano, desejos e interesses, tudo isso em uma perspectiva que possa tomar nós mesmo como sujeito destas mudanças, e que estas possam também reverberar no coletivo, de uma forma positiva é claro.


Neste momento, eu quero acreditar que apesar de ver os laços sendo desfeitos quando deveriam estar sendo fortalecidos, que apesar do encontro ser agora mais um desencontro, que apesar de testemunhar a intolerância estendendo suas raízes para lugares impensáveis, que apesar de viver em um presente que mais se assemelha ao passado, e principalmente, que apesar de perceber a violência, a apatia, a descrença e a imobilidade sendo norma, o novo ainda é possível. E talvez ele possa estar mais perto agora, quando nos percebemos e exigimos mais, porque merecemos mais. De toda forma, por mais que o novo não nos chegue a tempo, a necessidade de permanecer na sua busca deve ser sempre reafirmada, isso poderá ser a garantia da sua materialização para os que nos sucederem.


Longe de qualquer vislumbre irreal, é preciso sermos firmes a nós!

 


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