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DIÁRIO DE UMA ANSIOSA EM QUARENTENA II

Atualizado: 30 de jul. de 2020

Por Larissa Carneiro - 04 de julho de 2020


 

Dois de Junho, pouco mais da meia noite, início de mais uma semana, e metade do ano já passou. Sentimento de impotência misturado com esperança. Estou cada vez mais "acostumada" com a nova realidade do país, e, ao mesmo tempo, muito ansiosa por nossa liberdade. A máscara no rosto e o álcool em gel se tornaram itens tão comuns de serem carregados quanto a carteira. As paredes do meu apartamento já se tornaram amigas, de tanto que elas me escutam durante o dia.


Minha bicicleta nova virou decoração. Minha câmera não vê a luz do dia como antes. Meu tapete de yoga nunca foi tão usado, e meu quarto nunca sentiu tanto o aroma de incensos. Ficar nas redes sociais já não parece ser tão interessante, já que as notícias conseguem nos abalar e nos desestruturar mais do que já estamos.


A música virou um aconchego, melodia e letra lembrando que há sempre um novo amanhã. A minha janela com vista para a Chapada do Araripe nunca foi tão valorizada. O verde se encontrando com o azul do céu, pelo dia; as casas ao longe, relembrando que há pessoas ali que estão se sentindo da mesma forma que eu: aprisionadas.


Se eu pudesse definir esse isolamento social em uma palavra, chamaria de 'saudade'. Saudade da família. Da risada dos meus alunos. Da comida do restaurante da faculdade. Do abraço de despedida, posterior a um 'te vejo amanhã!'. Saudade da mesa do bar ao som de um MPB, sábado à noite. Saudade de quando nossas relações não eram determinadas por aplicativos de mensagens. Saudade da rotina. Saudade dos dias em que pegar na mão era cumprimento, e não sinal de contágio. Saudade. Saudade. Saudade.


"Estar em quarentena me fez enxergar o maior clichê de todos: a nossa companhia é o suficiente." Essa é uma das afirmações que fiz no meu texto anterior e gostaria de editá-la: "Estar em quarentena me fez enxergar o maior clichê de todos: a nossa companhia é o suficiente, mas uma presença sempre convém".


Minha ansiedade continua controlada, ao mesmo tempo em que precisei recorrer à ajuda psicológica. Meditar não é mais uma opção, mas sim um compromisso, visto que me traz paz de espírito. Minha intuição nunca esteve tão aguçada, já que é uma das poucas vozes que eu escuto nos meus dias. O silêncio se tornou amigo.


Continuo não sabendo quando vou poder voltar ao trabalho. Ou quando vou voltar a frequentar minha loja favorita. Ou quando vou chegar em casa atingida pelo cansaço e desejando a cama. Por enquanto, o que nos resta é a perspectiva. Pelos encontros. Pelos abraços. Pela presença. Pelo outro.


Encerro esse segundo texto desejando que você continue invocando seu Deus. Que sua fé por dias melhores não se abale. Que a firmeza esteja com você. Que as notícias não te entristeçam muito, e que, juntos, possamos continuar firmes e superar esse obstáculo.

 

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