Por Kayran Freire - 26 de outubro de 2019
No fim da tarde que imita um pisca-pisca de natal
É a última volta do motorista do 05.
Ele veio rápido porque estamos na última volta de um dia cíclico...
O retângulo de aço balança como uma nave que entra em órbita.
Velhas e escadas altas
Estalo de catraca
-Na próxima desce!
Vai e vem entre pontes, ladeiras e o moribundo Canal, entidade incorpórea.
Aquele de tantas histórias, memórias e reviravoltas.
Uma Mesopotâmia de acontecimentos me afasta do meu outro Eu.
Afago de sofrer
Vento quente de setembro
Vazio e apimentado riacho
Onde o monturo amontoa minha saudade de ver a meia lua do teu sorriso
Ah, Miranda! Que missão foi essa que tu jogasses no meu colo?
-Tu que está nua e eu que sou rei.
Veste apenas a coroa de penachos das almas dos teus índios
E nós, os que chamam índigos
Questionamos e vivemos
Onde escorrem as águas que um dia foram limpas e claras como minha memória.
Isso é minha canção de escárnio e meu dote pra ti.
Nas tuas formas mais sublimes
Ver as coxas dos teus morros
Tua coluna inclinada a 70°
Em tuas em-costas quero ver o horizonte
Subir até onde nasce a tua vida
Ir de carona numa rajada até o tabuleiro grande
E na primavera repousar meu copo onde jorra o mais puro hidromel.