Yslia de Alencar - 27 de junho de 2020
MALA
Quando eu decidi ir embora de casa, tudo o que eu tinha cabia numa mala, minha saudade, otimismo e esperança. Eu não sabia muito lá o que me esperava, era imatura e cheia de certezas no coração. A vida tratou de mudar tudo isso.
Foi mudando tudo aos poucos, com resistência. Parte de mim ainda estava presa ao passado. Minhas raízes fincadas de um modo que não me permitia trocá-las de lugar. E eu fui me abrindo aos poucos à mudança.
Hoje tudo o que eu conquistei, toda essa liberdade cativa de mais liberdade, é fruto de me arriscar nas apostas do mundo. De me lançar por aí sem medo de errar ou do julgamento.
Olhando para o passado, penso que se não tivesse tomado uma simples decisão, e em uma mala qualquer colocar a bagagem da minha vida, as coisas teriam me sufocado rapidamente, simplesmente por estarem lá.
O QUE A GENTE TEM PRA HOJE
A gente tem dessas coisas de ser gente quando acorda numa manhã de sábado revirando o baú das lembranças e decide mudar tudo de lugar. Daí não importa se muda a penteadeira para um canto, se corta o cabelo, se muda de cidade ou muda o mundo. O importante é tirar a pele que a gente vestia até ontem e colocar para frente um novo jeito de ser. E ser essa coisa que a gente quer.
ESTRADA DAS INCERTEZAS
Tem coisa na vida que a vida passa e passa a vida, e com ela a gente, porque a gente tá tudo junto em comboio. E pela estrada que segue é bom seguir sorrindo. A dor é grande, a saudade é muita... Mas, são caminhos. Eu sigo cá, vocês pra lá, uma hora a gente se encontra num cruzamento, na esquina da tua casa, nesta estrada que é a vida. Nós vamos seguindo assim, os dias vão passando na imprevisibilidade que é viver. Um dia a gente se esbarra. Talvez por percorrer o mesmo caminho, talvez por se encontrar, matar a saudade. E assim, seguindo o curso da existência.