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NOSSA POESIA

Atualizado: 15 de jul. de 2020

Por Guilherme Guedes - 30 de Maio de 2020


Imagem: Capa da obra O EROTISMO, de Georges Bataille.
 

Está na hora de escrever uma nova poesia, uma poesia diferente, a nossa poesia.

De tudo que já escreveram os que se presumem ilustres poetas pouco ou nada nos serviram.

Poesia aqui, vida ali. Não, esta não é a poesia que nós queremos. A nossa poesia é outra.

Estou farto de uma literatura narrando o vento que levanta saias de mulheres em meio às ruas, enquanto encantam os olhos dos homens que passeiam.

Não quero admitir que os sonhos de princesas continuem se reproduzindo em contos de bilhetes perfumados, acompanhados de chocolate e rosas.

Nada disso é nosso. A nossa poesia será ruptura dessa tola repetição.

Quando todos os que desistiram de refletir esperarem o sol às 6 da manhã e ele não advir por entre as montanhas, o que para a maioria será espanto para nós será o anúncio do novo tempo, tempo de poesia, nossa poesia.

Chegou a hora. Fez-se.

Chegou a hora de a poesia ser prazer inútil, escapar as funções e fazer com que eles pirem. Poesia anti-sistêmica.

Chegou a hora de a poesia ser o encontro no fim do beco escuro. Ninguém sabe quem esteve lá, só eu e você, claro.

A nossa poesia será desalinhada como na capa do Erotismo de Bataille. Muitos corpos entrelaçados. Não se sabe dizer onde começa, não se sabe dizer onde acaba. Apenas corpos.

Tudo que foi muro, agora é porta.

Porta aberta pelo beijo molhado das bichas em praça pública.

Eis a nossa poesia.

Joguem glitter sobre nós.

A nossa poesia nunca mais será o silêncio do escritor que olha os lírios no campo e o infinito horizonte de céu azul de suas terras.

Nossa poesia terá outra paisagem.

Ela não terá limites como os quadros que se apossam das imagens e ainda por cima dizem ser a realidade.

Patéticos.

Nossa poesia será uma criança de três anos cheia de lápis colorindo uma folha em branco sem respeitar as margens. Para nós elas não existem mais.

A nossa poesia será insuportavelmente barulhenta e contagiante. Não existirão mais cadeiras, pois não nos cansamos nunca.

Ao passo que inocentemente nos mechemos percebemos que os nossos movimentos desenham uma ficção plenamente realizável.

Aqui será o momento em que tomaremos as mãos uns dos outros para invocar o lugar que habitaremos.

Por isso a poesia nossa, nem minha e nem sua.

Quando a última música tocar, ao som de Pabllo Vittar caminharemos numa nova marcha. Dessa vez sem fileiras, sem ritmo, sem ordem.

Alguém se lembrará do poema de Chacal! Então tiraremos os sapatos e dançaremos para o resto de nossas vidas.

Fez-se hoje a nossa poesia.

É isso o que somos. O que potencialmente somos.

Nossas palavras, nossos espirros, nossas fezes, nosso suor, tudo em nós não se cansa de criar o novo.

Somos capazes de atravessar qualquer coisa.

Por isso somos invencíveis.

...

Fez-se hoje a nossa poesia. Amanhã se fará de novo, e depois também.

 

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