Por Rodrigo Manfredini - 07 de outubro de 2019
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Eu passo na rua fechando os olhos como que quero fechar os ouvidos
O movimento sutil do piscar os olhos nos proporciona isso (de fechar os olhos com discrição)
Já com os ouvidos, não
Como fechá-los sem utilizar as mãos?
Quem me dera que essa rua, que essa rua fosse minha
Fosse só minha não, fosse nossa, as Outras
Que os comentários não passassem do ato curioso de uma criancinha dizendo:
"Olha o cabelo daquele menino"
Por mais que esse ato curioso, muito provavelmente, já esteja por demais contaminado de preconceitos.
Ontem, numa aula sobre corpos, pedi aos estudantes que desenhasse uma parte
Grande parte desenhou olhos
E eu fiquei pensando, sem conseguir formular bem, mas fiquei pensando
E agora, na rua, me veio que o olhar é, muitas vezes, nosso primeiro "contato" com as Outras.
Então, fiquei pensando sobre os olhares recebidos na rua
Pensando sobre o que os move
E tenho pensado que, talvez, há mais violação neles do que curiosidade
Na ausência do discurso oral, o que a boca não fala, o olhar diz.
E tenho pensado que, se um dia arrancarem de mim meu cabelo, eu hei de morrer em vida.