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CARTAS (feitas para não serem enviadas) III

Atualizado: 30 de jul. de 2020

Por Rodrigo Manfredini - 23 de Maio de 2020


Quadro de Edvard Munch -The dance of life (1899-1900)
 

Eu tenho pensado sobre amor e amar. Antes de ir a isso propriamente, às vezes, eu penso que penso demais, penso que pensar seja um peso que talvez, se eu tivesse escolha, comodamente seria melhor não pensar. Enfim, até pra pensar que pensa é necessário o pensar, então, foda-se, nós estamos condenados a pensar. Voltando ao amor e ao amar… No último álbum da Gal Costa, “A pele do futuro”, na música “Cuidando de Longe”, ela canta “Amar sozinho também é amor”, e eu tenho tendido a concordar com isso. Ontem, conversando com uma grande amiga, eu falava sobre o sentir-se leve ao alcançar a compreensão de que você pode gostar de alguém, mas que esse alguém pode (e tem o direito) de não gostar de ti. Ela, sabiamente, falou sobre “responsabilidade emocional”, dizendo que a gente não deve romantizar o “não sentimento” do outro quando ele, de certo modo, já abriu a porta pra gente. Apesar de concordar com ela, eu a disse que essa atitude de compreender o “não sentimento” do outro diz mais sobre mim do que sobre o outro. Nossas falas partiram pra um ponto em comum: é muito complicado ter acesso à subjetividade do outro, ao ponto de fica difícil de entender o que dela decorre, como o “não sentimento”, a não ser através da mediação da conversa, do diálogo. Eu disse a ela que a grande questão pra mim não se tratava do “não sentimento”, mas do silêncio que habita em volta disso, ou seja, a não comunicação. É, eu posso até ser visto como bobo, como ingênuo ou até como apressado, mas minha resposta é de que não vou me privar de gostar de alguém, ainda que o outro não goste, mesmo que eu me prive de demonstrar, até porque isso é sobre minha subjetividade. Então, espero que pelo menos o outro também faça o esforço pra compreender isso. E, entre eu e tu, houve isso da não comunicação. Alteridade requer transparência e disso eu não abro mão. Eu sou intenso, me envolvo mesmo, disso posso dizer. De ti, só posso cobrar o dito, porque enquanto permaneceres na posição de não dizer, em mim habitará somente suposições que podem ou não condizer com o que tu sentes. E, pra terminar com a música da Gal com a qual comecei, “Um passarinho me contou/ Que você não é só isso que aparenta ser”. E digo mais um a vez, eu fui afetado.

29 de novembro 2019

 

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