Por Rodrigo Manfredini - 25 de janeiro de 2020
I
Dentro do meu peito cabem tantas coisas, sabe? Cabe o sentimento por ti, cabe o desejo que tu também tenha sentimento por mim, cabe tanta coisa, só falta caber a compreensão de que tu pode não ter sentimento por mim. Eu luto pra caber isso também, sabe? Eu contra mim mesmo, um choque de dois mesmos, que na real são um e, também, são dois. Loucura? Não, a existência é feita dessas coisas, a gente é que é criado pra achar que só existe o certo ou o errado, que só existe o um ou o dois, que não pode existir o um que é dois e que é um. Enfim, há sentimento, ou melhor, sentimentos dentro de mim. Eu te beijei, eu te senti, e olha só, eu fiquei feliz. Foi rápido, mas eu tentei prolongar ao máximo aquele atravessamento que vivi junto a ti. Pra mim, foi bastante intenso. E eu, eu que sou muito tagarela, calei diante de ti. Calei, porque tu também calaste. Calado tu, calado eu. A pergunta que irrompeu um pedaço do grande silêncio foi o "Eu posso te beijar?". Era silêncio, mas havia comunicação. Loucura? Não, já falei sobre isso em linhas anteriores... E a comunicação dos lábios substituiu a comunicação dos silêncios/olhares. É, a gente tava muito calado, mas nossos olhos falavam, e falavam muito (e o silêncio gritava). A comunicação lábio no lábio, corpo no corpo, me afetou de um modo tão intenso, que consumiu minhas energias corporais. Sério, muito sério. Na volta pra casa até cochilei (tipo muito) dentro do busão e, putz, perdi a parada. Foi, eu acho que um pedaço de mim ficou... Pra mim ficou em ti, mesmo que pra tu não tenha ficado. É, eu confesso, eu fui afetado.
27 de novembro.