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Carta sobre o amor

Atualizado: 24 de jul. de 2020


Por Liete Nascimento - 14 de Dezembro de 2019



 

Querido Jonas


Penso ter cumprido com o prazo que me destes na sua última carta, se sim, sinto-me feliz por isso.


O conteúdo deste escrito foi bastante instigante, revelo que me debrucei da maneira mais profunda que consegui em pensamentos que me permitissem entender minimamente o que entendo por amor, não sei se minha resposta irá satisfazê-lo, ou a quem quer que leia essas palavras, tampouco essa é a minha intenção. Entretanto, caso isso gere outros atravessamentos, teremos mais um motivo para darmos continuidade as nossas correspondências, e se assim for, falar sobre o amor será sempre prazeroso.


Inicialmente me veio à mente reflexões a cerca da vida, digo agora o porquê.


Ter consciência da contingência da vida nos faz pensar sobre o sentido da nossa existência, pois a vida por si só parece não possuir sentindo algum, ocorre que nós a significamos, e para isso, nos lançamos em busca de motivos para viver, pois sem eles, tudo seria reduzido ao nada. Atribuímos então um valor de essencialidade a certas coisas e pessoas. No fim das contas tudo parece não passar de ferramentas que usamos para significar nossa existência; não achas?


Poderia eu então citar como exemplo uma tríade a qual penso assumir um valor aparentemente universal em nossas vidas; a família, o trabalho e o amor. Todos esses elementos parecem ser essenciais à vida, já que tudo o que fazemos leva-nos em direção a essas três categorias, em especial o amor, isso porque este se entrelaça aos outros, sobretudo porque é preciso haver amor pelo que se faz e por quem se convive.

A família tem um quê de necessidade, às vezes até doentia, precisamos e recorremos a ela sempre que algo nos acontece. Parece que independente do que se faça, a família deve perdoar. E devo dizer, há aí uma espécie de abuso, porque os familiares precisam pelo laço do sangue (ou não) desconsiderar certos erros, por mais graves que sejam. Mas é também para ela que sempre retornamos e isso porque o laço não é apenas sanguíneo, o amor entre parentes aparece como o mais forte, e é por isso que sempre perdoamos, acreditamos sempre na possibilidade da mudança, provocada por nós, acreditamos na família, agimos com e por ela, e isso também é lindo.


Já o trabalho... Esse se apresenta como o mais problemático de se falar, pois eu mesma não consigo travar com ele uma relação harmoniosa, nem ao menos realizo nesse momento alguma atividade que possa ser considerada trabalho segundo sua noção tradicional de atividade que produza ou gere algum bem material. Preciso dizer que reconhecer o seu valor como indispensável à vida às vezes soa puramente como uma obrigação, e daquelas que nos deixam bem infelizes.


Poucas são as pessoas realmente apaixonadas pelo que fazem, o comum, ao contrário, é nos depararmos com mentes e corpos cansados de realizar as mesmas tarefas rotineiras, permanecendo sempre atentas às exigências desses afazeres como se fossem sua razão de vida. E talvez seja, já que é a garantia de continuidade do pagamento dos boletos. Penso que se a realidade não fosse tal qual se apresenta a nós, poderíamos realmente “amar” o trabalho realizado, porque faríamos o que gostaríamos verdadeiramente. A pintora, a dançarina, a artesã, a professora, a cozinheiras e tantxs outrxs seriam felizes, e o trabalho não seria uma tortura, mas sim objeto de prazer.


Então sim, acho o amor uma conveniência, ora boa, ora ruim; a depender especialmente do nosso estado de espírito, porque o responsabilizamos por muitos dos nossos atos. Pensemos... O amor é realmente essencial? Acredito agora ser, não falo somente do amor entre duas pessoas que se relacionam amorosamente, mas do amor por tudo, que torna muita coisa mais bela e prazerosa. Pois é certo que ele envolve toda a nossa vida, e nós o fizemos assim, infundimos ao amor a necessidade de existir porque precisamos de um motivo para viver, e o que é mais lindo que construir o que se ama?


O problema do amor talvez sejam os amantes, e não sei se amamos o que não temos ou se amamos o que já possuímos, de certo modo, acho que as duas noções se entrelaçam e nos direcionam. Fora de todos os clichês, penso que certa noção de amor torna tanto as coisas como as pessoas mais belas, e aqui, o seu significado ou sentido me parece por vezes irrelevante, importa a mim, o bem que esta palavra pode nos fazer.


Para encerrar, não saberia se estas palavras resumem o que realmente compreendo por amor, visto que todos os dias desde que você me instigou a escrever sobre o tema me pego refletindo a respeito e nenhuma das respostas que obtive me satisfazem; acredito que não seja possível encontrar uma definição exata. Fato é que precisamos destas dúvidas e incertezas, se assim não o fosse, se a resposta nos fosse dada de prontidão muito do que é a vida perderia seu sentindo, o bom deste exercício de pensamento é entender que existem as mais variadas formas de amar e compreender o amor, graças a nós!


Atenciosamente, Liete, com AMOR.

 

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