top of page
Posts: Blog2
  • Foto do escritorBlog

É POSSÍVEL FAZER DIETA E TER SENTIMENTOS?

Por Felipe Bispo - 23 de dezembro de 2021

Você que decidiu abrir este texto deve tá montando na sua cabeça se eu vou dar uma nova fórmula pra emagrecimento ou meter o papo coach de que você precisa estar bem a todo momento, ainda que coma duas folhas de alface num dia e chame isso de se alimentar?! Eu faria o mesmo, isso está por toda parte hoje, mas fique tranquilo, só quero te dizer como estou.


Veja, eu amo comer, todo mundo ama, e eu amo ser gordo, isso nem todo mundo ama, mas fodam-se eles. Fato é que você pode ser magro e saudável e gordo e doente, bem como gordo e saudável e magro e doente também. No meu caso específico, ao ir ver meu médico pude notar que coisa boa não vinha e ele com muita raiva (pois não era a primeira vez que ele dizia) falou que meu coração estava caminhando mais que eu num dia e essa caminhada era para o buraco. Sofro de arritmia ainda em estado leve, mas parece que estava a passos largos pra um “papoco”, o que me traria mais uma vez para o lado “fitness” (que ódio eu tenho até de escrever essa palavra) da vida.


Não era a minha primeira vez vivendo uma dieta, há uns 3 anos atrás eu perdi 22 kg fazendo low carb, que é uma dieta em que se diminui drasticamente a quantidade de carboidratos ingeridos e aumenta-se o consumo de proteínas, folhas e frutas. Nesse tempo eu fingi que estava fazendo pela saúde, mas estava no pós término de um relacionamento complicado e tive vontade de “ficar bonito” (que aqui facilmente podemos tirar as aspas e falar ficar padrão), e é aqui que começamos a ver como os sentimentos nos carregam nesse mundo e quase que nada mais.


Pois bem, antes de qualquer coisa preciso lhes dizer que já venci. Acordo todo dia às 5 da manhã, faço uma corrida pesada, me alimento com um shake delicioso que eu mesmo inventei, bem como várias frutas durante o dia e ainda me privo de bastante carboidratos, já perdi 13 kg e estou absolutamente saudável. Faço tudo isso de forma extremamente tranquila (hoje) e me sinto extremamente feliz, e esse é o ponto, eu me sinto feliz agora fazendo isso, virou minha rotina, são “as minhas coisinhas hihihi”, entende?


Agora a motivação é a minha vida, e acho que ter uma motivação mais nobre é essencial. Dessa vez eu tenho um plano além de me sentir bem quando aquele amigo disser “tá rasgado hein pae”, ou ser mais paquerado na rua, ou correr de um cachorro e me surpreender porque estou mais leve e rápido. Saber que estar no mundo e permanecer nele são coisas sérias, acaba mudando muitos panoramas do que você enxerga e traz muitas reflexões pra sua vida. Pronto, dado este relato de superação digno de globo esporte em pré-olimpíadas vamos ao que interessa, e os sentimentos?


Eu lido com depressão e ansiedade há muito tempo e com certeza lido há muito mais tempo do que acho que lido, pois minha métrica é de quando eu descobri o que isso era em mim e não quando ela apareceu e se manifestou. Fora isso, eu sou um homem extremamente sentimental, uma manteiguinha derretida, uma bolachinha integral molhada no leite. Tudo isso se refletiu durante a minha vida. Quando criança, pesei 78kg com 11 anos, era obeso mórbido e naturalmente perdi certo peso com a puberdade e crescimento. Sempre gostei de esportes e isso ajudou, mas nunca fui magro, sempre estava acima do peso e nessa época isso era um pesadelo, bullying, e foram estes pesadelos que construíram em mim todas as dores que sinto hoje e o peso pode ter ido embora, mas elas não.


Construir um hábito saudável pode ser bem mecânico, no entanto ele tem uma beleza dramática muito forte se você conseguir ser sensível. Durante esses 4 meses de mudança eu enfrentei inúmeros demônios, porque o que se mostra na maldita rede social é a corrida, a academia, o lindo prato de salada. Ninguém viu o apertar da minha almofada surrada às 9 da noite de uma sexta escura (porque eu não acendi a luz) dentro do meu quarto tendo crise de ansiedade porque meu trabalho não ia bem, ou a noite depressiva e chorosa absolutamente por nenhuma razão concreta, mas por dezenas de razões que meu cérebro jogava na minha cara como se me odiasse. É importante entender que somos humanos durante todos os processos que inventamos pra nossa vida, e cuidar da saúde do corpo é importante por um motivo muito simples, é ele que te sustenta, te locomove, te alimenta, te suporta. E todos os problemas que você tem serão carregados por ele também, portanto meu primeiro passo foi parar de me sentir especial. “Ei, lesado, tu tá dizendo pra eu me odiar pra poder cuidar de mim?”. Por favor não me entenda mal, estou falando que pra mim foi muito importante notar que frente ao mundo eu sou um grão de areia e ele literalmente é um oceano, e não há qualquer motivo pra que eu me sinta uma pessoa a prova de balas.


Todas as pessoas que te mandam ser fortes estão dizendo pra você ignorar o que sente, dizendo que você tem que ser implacável, enfrentar os demônios, passar por cima das barreiras e se jogar em lugares desconfortáveis e sombrios, sendo que o mais fácil na verdade é você simplesmente sentir. Dor, raiva, tristeza, alegria, empatia, amor, todos esses sentimentos fazem parte de você e te motivam a algo, por que a resposta correta seria ignorar alguns deles? Quando estamos felizes, tendemos a jogá-la pra fora com sorrisos, gestos, palavras, ou simplesmente com prazer e satisfação, ou seja, a gente sente, ela sai e nós vivemos esse sentimento. Quando ignoramos a raiva, por exemplo, ela não sai, portanto, não vai deixar de existir, e como em uma dieta, o acúmulo te faz não alcançar certos objetivos, e logo um dia como meu coração ia, você explode.


Eu me permiti sentir toda a ansiedade que carrego, toda a depressão que me rebaixa, e tive dias em que me paralisei numa cama, ou gritei, chorar? Pablo que me perdoe, mas ou eu não sou homem ou vim com defeito de fábrica, homem chora sim e puta que o pariu, Pablo, eu chorei demais. Aprendi bastante com isso pois no passado meu ciclo era me afagar de todas essas sensações incômodas com um “docim”, uma gigantesca pizza, uma coquinha gelada hmmmmmmm! Agora não, por mais que eu tivesse dias ou até uma semana péssima, tinha uma coisa que era minha, a única coisa que naquele momento ainda me mantinha no chão e me dizia que eu sou o epicentro de toda a minha dor e não, ela era o chão do meu existir, eram as minhas “coisinha hihihi”, as minhas belíssimas refeições super balanceadas e extremamente gostosas (se posso aqui te dar um conselho aprenda a cozinhar, é terapêutico, te ensina a respeitar os alimentos e muito gostoso na boca, acredite.), a minha corrida, e até mesmo meus novíssimos e desconhecidos hábitos como estudar e claro, escrever. Pois não importa se tudo está desmoronando, eu tenho um compromisso com o que faço e estava extremamente obstinado. Sabe a pizza, a coquinha gelada e os docinhos? Você deve tá achando que eu vomito só de ter contato e passo o dia renegando as pessoas que comem isso, né?! Pois não, eu os como, mas eu os como quando eu quero, e mais importante, eu os como quando estou feliz. Entendi dentro do meu ser que tristeza é pra se sentir e não pra se alimentar, portanto quando estava triste eu religiosamente seguia meu cronograma com todo sacrifício que fosse necessário, e quando estava feliz eu fazia o mesmo, mas quando dava vontade eu escolhia bem um dia e comia meu belo burgão, tomava um sorvetinho, enchia meu prato de baião com frango assado, eu alimento a minha felicidade, minha satisfação, eu amplio meu sentimento positivo com coisas que me dão certo alívio da dura rotina e não me bombardeio com prazeres rápidos quando tudo está em ruinas.


Pois bem, tudo 100% perfeito e agora eu sou o Clark Kent, não é mesmo? De forma alguma, em uma certa sexta-feira, eu obstinado a fazer minha segunda corrida do dia me sentei na cama pra calçar meu tênis às 17:12 e quando acordei eram 19:20. Sofri um desmaio devido à carência de energia no meu corpo. Acordei completamente apático, sem forças, com muita fome e tristeza. Na minha obsessão por cada vez mais resultados perdi a linha, estava quase sem comer nenhum carboidrato, vivendo de folhas, carne e ovo em quantidades ainda reduzidas, um erro terrível que veio da cegueira que os bons resultados trouxeram. Me questionei imensamente sobre se o que estava fazendo era o correto, se a filosofia que estava seguindo realmente me satisfazia, ali talvez fosse a hora de aceitar que eu não sei o que estou fazendo e só ia me matar de uma forma diferente, porque infelizmente não tenho condições financeiras de contratar nutricionista, personal trainer e todas essas coisas que são essenciais pra se fazer isso de forma 100% correta.


Dei dois tapinha no lado direito do meu rosto (se eu der no esquerdo me irrito muito, nunca soube o porquê) e disse: “idiota, você não é especial, lembra? O fracasso é a única certeza da vida e o único ponto necessário pra se tentar novamente”. E lá fui eu depois de 3 meses comer um macarrão com frango e shoyo extremamente gostoso que em meia hora me trouxe um alívio que a última vez que tinha sentido foi quando saiu o resultado de um beta aí no passado.


Era hora de recomeçar e entender que eu mais uma vez não sou especial, que preciso me alimentar de verdade e ver meus resultados chegarem com tranquilidade e delicadeza, pois pressa eu só preciso pra correr. E lá estava meu resultado, em 3 dias comendo arroz de novo eu corri o dobro do que estava conseguindo. Eu já tinha vencido e estava me esforçando além do que aguentava pra chegar em um lugar que eu já estava, e tudo que eu precisava era de um pouco de relaxamento e não mais restrição. Vê? Você não é especial, não é anormal, nem excepcional, você é você e é o único responsável por si, ou como diria Emicida “o único representante do seu sonho na face da terra”. Logo, se você tá se sentindo mal porque tá vendo uma série ou ouvindo músicas ao invés de escrever um artigo, saiba que você talvez faria um trabalho muito melhor se desse uma noite de descanso pra sua cabeça.


Eu prometi que não ia ter papo coach e não terá, isso aqui não é um grande relato de vitória, é o conto da minha experiência e de como tudo tem se transformado porque eu finalmente resolvi levar a vida um pouco mais a sério sem ter que necessariamente ser sério. Não há fórmula de sucesso, tampouco há sucesso, nós somos o amontoado de absolutamente tudo que fazemos e vivemos, e qualquer coisa ausente disso é ladainha pra te fazer estar exausto pós fracasso e não conseguir tentar de novo. Então não olhe pra tudo isso aqui e diga “vou fazer exatamente igual”, se questione sobre o que você precisa de verdade na vida pra se sentir satisfeito, e apenas isso. Esteja pronto pra descobrir sua verdade e encarar todas as coisas vendidas e distribuídas gratuitamente como a maior ladainha, pois você nasceu num certo lugar, numa certa hora, viveu numa certa casa, certas experiências e está nesse momento em que ninguém mais esteve, portanto não é uma questão de não dever se comparar com outras pessoas, é uma questão de que isso não é possível.

 

55 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

SORRIA

  • facebook
  • instagram

©2019 by Jonas Paulino. Proudly created with Wix.com

bottom of page