Por Vladimir Ferreira - 30 de janeiro 2022
SORRIA
Ao fim do dia
Mesmo tarde
Sem alarde: sorria
Quem diria?
O remédio para o tédio
Não é confundir o coração
Muito menos ficar louco
Com o pensamento solto
Veja os bichos da floresta:
Fazem festa nesse chão
Enquanto houver caminho
Siga em frente
Devagarinho
Nunca estará sozinho
Quando não, novamente tente
Seguindo a intuição
Lembre-se de proteger a flora, a fauna...
As raízes dessa tribo da Chapada
Guardiãs do território
Alimentam-se do solo
E purificam o ar
Tudo isso já foi mar
Hoje, podemos contar -
Com o crivo da ciência -,
Explicar com paciência
A quem tem deficiência
De aceitar nossa memória
Somos fósseis
Somos história
Até quem nos ignora
Antes de ir embora
Um pedaço quer levar
Do Vale dos Dinossauros daqui
Ainda nos resta o Pequi
Não é obra do acaso
Foram armazenadas águas
Guardadas no subsolo
Na mata, no rio raso
Pela crença do último povo rendido
O agricultor do ocidente
Usurpador no Egito
Não redimido
Perdeu-se no tempo medido
Promoveu combate sangrento
Confuso nos sentimentos
Sentiu prazer no abate
Restou-lhe genocídio, ecocídio, feminicídio...
Padece no paraíso perdido
À procura de sentido
De um novo ninho afastado
Na falta de vinho
No corpo despido
Avista pecado
À força, no rito, prega o batismo
Puritanismo do patriarcado
Imaculado
Confunde o lúdico com insulto
Prega seu dogma no púlpito
Palco do povo escolhido
Foge do desconhecido
Quer-nos catequizados
Criminaliza a nudez
Exalta a estupidez
Reprime quem se diz feliz
Mas, não se demora, contesta
Esquece o arco, a flecha
Sob o Sol, sobe a Serra
Traindo a realeza
Recorre ao Povo Kariri
Mestre da delicadeza
Onde pariu a pobreza
Pra aprender a sorrir