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QUEIXAS- DEDICADA A TODAS AS MULHERES PRETAS.

Por Jéssica Lorenna Lima Gonçalves - 12 de setembro de 2020

 

Queixas, sempre tinha alguma coisa para falar.

Por que você grita menina?

Por que você chora menina?

Por que você é tão violenta?

VocÊ deveria ser igual àquela outra, tão boazinha!

Para que tanta exposição assim?

Não era para tanto!

Será que você não exagerou?


Eu fui aprendendo, que nem todos iam se agradar e, na moral? Tudo bem! Desse jeito eu fui criando essa casca grossa! Que nem é tão grossa assim! Sabe aquele tipo carne fraca? Eu sempre fui do tipo carne dura! Essa casca que eu insisto em cultivar.


Mas agora chega! Você ouviu? Agora basta! Na boa irmão, 300 anos de história no lombo. Aquela herança que não é bonita, que você não escolheu, mas te enfiaram de goela a baixo. É paulada, ou seria chicotada atrás de chicotada!


Minha carne ainda respinga sangue do meu passado, sempre que um corpo negro aparece na TV manchado de sangue. Cada vez que uma mulher preta é silenciada, estuprada, minha pele, meus pulsos e até as veias da minha cabeça se contraem! Ah se eles enxergassem o que tem aqui dentro. Em vez de me apontarem gostosa. Aquela que é boa de cama, mas nunca boa para segurar sua mão. Esses outros eles me amariam, porque tudo o que nós queremos é amor. Ahhhhhh que amor, nós queria mesmo era afeto. São muitas as queixas, sempre tiveram muitas queixas.


As queixas! Várias queixas! Esses outros continuam a nos apontar, a dizer o que querem de nós. E as queixas deles sobre nós sobre nossos corpos, nunca deixaram de aparecer, lembro de quando disseram: "não me cabe nessa sua liberdade!" Doeu.


E o medo? Medo do que eles iam falar de mim! Medo do julgamento! Medo eu tive de não ser livre. Essa liberdade já me custou tanto. Dês do sangue derramado no cativeiro, dos meus e das minhas. Deve ser por isso que me é tão cara essa liberdade. No cativeiro eles prenderam meu corpo, mas nunca a minha mente. Foi assim, quando calaram Dandaras, Beatrizes e Marieles! Quando a dor de sermos caladas doeu mais forte! É assim que me vejo. Hora aqui seguindo. Sempre me ligando a essa liberdade que me custa a vida e é o meu farol. Me custou amores e eu precisei gritar. Precisei chorar! Precisei clamar! Liberdaaaaaaaaaade!


Liberdade para nos preto! Meu grito pode até parecer de revolta e que seja se for assim a única forma de ser ouvida. Maaaaas o que esse corpo quer é fôlego, é suspiro, é chamego e é A-F-E-T-O! Meu grito é Por Ela, essa que todos pensam que tem, mas de nós sempre foi motivo de revolta. Por Liberdade meu corpo, todas as células do meu corpo, cantam para a certeza de que meu medo e os olhares sujos de vocês nunca me calem!

 

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1 則留言


Lorenna Lima
Lorenna Lima
2020年9月13日

Obrigada por compartilhar comigo essas palavras!

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