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O ESTILO ANICETO DE MÚSICA - UMA REFLEXÃO SOBRE O ÁLBUM "A BANDA CABAÇAL DOS IRMÃOS ANICETO" DE 1999

Por Lucas Lopes - 21 de novembro de 2020


 

Estamos em novembro de 2020, como sempre, faz calor por essas bandas do Cariri, tudo normal. Se olharmos para os últimos 200 anos, saberemos de três coisas importantes para a humanidade: o calor aumentou a nível global, o Cariri se expandiu para região metropolitana, e a banda cabaçal dos irmãos Aniceto esteve na ativa. Isso mesmo, uma banda com mais de dois séculos de existência, e contando. Queridos leitores, às vezes do alto de nossa inocência nos denominamos "raiz" nos contrapondo ao lado Nutella da vida. Nós, com nossos instrumentos musicais comprados com todo conforto em lojas ou internet, com nossos notebooks touch screen e nossas controladoras mídias de última geração, estamos longe de sermos os "raiz'' se comparados a esses caras.

Você entraria na mata pra pegar o material necessário para construir seu próprio tambor? Pra eles só presta se for assim, inclusive os pifes também são de materiais extraídos da mata e confeccionados por eles desde a fundação. Além disso, existe uma técnica de tocar pife que é exclusiva dos Aniceto, com a ponta dos dedos eles fazem um movimento pendular nos orifícios do pife, possibilitando a introdução de novas nuances dentro da escala musical.

Vamos falar sobre um disco que só foi gravado em 1999, mas que mostrou ao mundo a grandiosidade dos Aniceto enquanto músicos. Começando pela "Marcha de Chegada", dá pra sentir o clima marcial que obviamente os influenciaram. Na segunda faixa, "Galope", o disco começa a esquentar, passando por "Baião Trancelim" e "Alvorada Cabocla", até desaguar em "O Cachorro, O Caçador E A Onça". Essa faixa é responsável pelo reconhecimento do lado teatral dos irmãos Aniceto, ela te faz emergir na situação através do som, nos palcos as plateias do Brasil e do mundo puderam conhecer um pouco dos conflitos do sertão, do matuto e da natureza apresentados sob uma batida frenética no melhor estilo Aniceto.


As faixas "O Casamento Da Acuá Com O Gaviâo" e "Pipoca" são excelentes composições que mostram um lado musical incrível dos integrantes, assim como a ousadia e genialidade de tocar choro com uma banda cabaçal como vemos em "Choro Esquenta Muié". Mas o ponto alto do disco é "Baião Velho", como o nome já diz, essa melodia deve ser no mínimo centenária. Ela emana uma sonoridade que nos leva diretamente para as visões bucólicas do semiárido com um ritmo constante que traduz bem a vida nesse cenário.


O disco é belíssimo do começo ao fim, ele nos leva a pensamentos que vão desde a apresentação dos irmãos pelas ruas do Crato, quanto à conexão que a música tem com a natureza. A obra dos Aniceto fala da fauna e flora, da lavoura, da realidade do matuto. Tudo isso dentro de uma incrível textura musical, de tão orgânica que é como se as árvores tivessem tocando música. Minha gratidão aos produtores musicais que registraram esse trabalho maravilhoso. Aos irmãos Aniceto, desde a primeira geração, o meu agradecimento, espero que estejam em um bom lugar, e que nesse lugar vocês estejam juntos encenando a fuga das abelhas e divertindo todo mundo. Ao mestre Raimundo Aniceto que deixou este mundo no dia 15 de outubro, minha eterna gratidão. E para quem ainda não ouviu esse disco, cuide!

 

Link para página onde é possível baixar o disco: AQUI.

Link para o canal de YouTube de Lucas Lopes: AQUI.

 

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