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NEM RESILIENTES, NEM ACABADOS.

Por S. Monte Moreno - 22 de agosto de 2020

 

Possuímos uma superfície completamente vulnerável, mas essa completa vulnerabilidade não (cor)responde somente às violências, responde também a simpatias, e ambas – violência e simpatia - podem inscrever em nossas superfícies: jamais seremos resilientes. Mas essa superfície, a ser inscrita, é diferente daquela ideia de que “os homens são páginas em branco”. No nosso caso, esse livro nunca terá um fim, o homem nunca se tornará completo. Ora, mas se não temos lugar para retornar, nem fim a chegar, de onde viemos e para onde vamos? Para onde nossa vulnerabilidade nos leva a retornar. A ideia de ser vulnerável por muito tempo foi identificada como sinônimo de fraqueza, de justificativa para violência:


- Ela foi violentada por que é vulnerável.


- Mas ele é tão frágil, tão vulnerável.


Eventualmente foi nos ensinado a nos encerrarmos em nós mesmos, “proteger o nosso eu”, eles dizem. Não aprendemos a usar nossa vulnerabilidade, pois simplesmente temos outros abusando dela.

Mas veja, esse tipo de identificação é a própria violência contra vulnerabilidade, é a contínua inscrição violenta sobre nossa superfície. E após tanta violência, após tanta necessidade de esconder-se e proteger-se, nossa vulnerabilidade só (cor)responde à violência, tanto que qualquer tentativa de inscrita simpática é tomada também como violação.


-Ah, mas eu sou assim.


- Desculpa, não posso mudar meu jeito de pensar.


E tão cedo acreditamos que temos, de verdade, um Eu profundo, uma essência a ser preservada. Mas a vulnerabilidade não funciona assim, nossa superfície sempre estará exposta a inscrições, violentas ou simpáticas, realmente não temos controle sobre qual chegará hoje, amanhã, ontem, de nossas memórias. E se temos escolhas, elas se voltam a questões do tipo:


-A qual dessas devo me expor mais prontamente?


- continuar a correspondendo violências?


- Aceitar simpatias?


- Minhas experiências me fazem acreditar que existem violências disfarçadas de simpatias. É realmente interessante aceitar elas assim mesmo?


Por outro lado, há simpatias que se apresentam violentas, e essa apresentação violenta pode mudar o que já sou:


- Devo continuar evitando essas simpáticas violências?


Dito isso, de fato, é difícil distinguir violências de simpatias, porém, continuaremos vulneráveis, não há fórmulas para deixar de ser vulnerável, ninguém é absolutamente apático. E é isto que temos que entender:


SOMOS VULNERÁVEIS


Mas, continuaremos nos encurralando, procurando evitar violências, paradoxalmente, de forma violenta? Ou podemos aceitar a condição da vulnerabilidade, e passar a aceitar inscrições sobre inscrições em nossas superfícies? Inscrições simpáticas sobre as violentas. Abertura às futuras simpatias. Cuidado com as próximas violências.


Nem resilientes, nem acabados.


Superficiais, nunca profundos.

 

Nota sobre a imagem: Parasyte é um mangá/anime que conta a história de um parasita que se descobre inacabado quando passa a responder as complexas emoções e razões humanas de seu hospedeiro, ao mesmo tempo em que o hospedeiro humano descobre que é impossível ser resiliente quando passa a corresponder às violências de seu parasita.


*Sinopse nada oficial.

 

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