Por Weverton da Silva - 10 de abril de 2021
A espera acabou e o jornal de borda finalmente chegou! Em setembro de 2020, por meio de uma post de Instagram, fiz o primeiro contato com a idealizadora do jornal: a queridíssima Fernanda Grigolin da Editora Tenda de Livros. O post em questão era uma chamada para escrever sobre o tema “arte e anarquismo”. Após o contato fui calorosamente recebido por ela e imediatamente colocado em meio ao grupo que também respondeu ao chamado. O grupo final de escritores ficou em 12 pessoas. Logo descobrimos que essa publicação seria o último jornal de Borda, o número 10.
A vida desse jornal durou seis anos, ao longo das publicações debateu sobre os mais diversos temas do mundo, da vida, da arte, da contestação anarquista, sobretudo pelo viés anarcofeminista, mas isso é algo que só a Fernanda pode falar com propriedade, ou você pode saber acessando o site da Tenda de Livros*.
Bem, a edição número 10, a qual participo, foi uma grande luta para ser publicada. Foram várias reuniões para decidirmos os caminhos que devíamos tomar coletivamente. Divergências de ideias e visões de mundo não faltaram, bem como aprendizado mútuo houve de sobra. Criamos grupos temáticos de afinidades e escrevemos a partir deles. Apenas com o jornal em mãos pude ter acesso a tudo que foi escrito, pois devíamos nos concentrar em escrever para o/os tema/s a que nos filiamos. Considero essa uma das delícias de uma escrita coletiva: não sabíamos a quantas ia o todo da coisa, mas sabíamos que devíamos fazer o melhor em nossa parte.
Filiei-me ao grupo temático da “deseducação” e da “morte ao gênio”, passamos a nos chamar carinhosamente de “deseducados esfaqueadores de gênios”. O grupo era de quatro mulheres e dois homens, cada pessoa de um cantinho diferente do Brasil, nordestinas eram duas, uma baiana e eu, cearense. Bem, neste tema, procuramos fazer apologia à “deseducação”, uma forma de pensar e agir contra a educação hegemônica neoliberal. Acreditamos que verdadeiramente nos educamos quando nos tornamos deseducados para o Status quo da sociedade, bem como valorizamos nossa individualidade não em prol do individualismo competitivo, mas em busca da colaboração coletivista. Não obstante, precisamos “matar o gênio”, pois ele é “uma ilusão”, apenas uma figura abstrata estimada na sociedade capitalista, sobretudo em meio da educação neoliberal e nas artes. A arte e os saberes não pertencem a academia, aos livros, ou as galerias...
Se você gostou do que leu acima, então posso dizer que no jornal há outros temas tão interessantes quanto ele. Essa foi a parte mais artística, crítica e criativa.
A parte mais técnica (diagramar, imprimir, distribuir) foi outra luta.
De modo geral, seria preciso arrecadar grana para essa parte técnica. Para tanto, fizemos campanha de pré-venda, bem como um curso elaborado pela Aline Ludmila e Fernanda Grigolin foi realizado para cobrir partes da verba destinada a impressão do jornal. Por fim criamos uma rifa com o intuito de levantar grana para enviar ao lugar dos escritores do jornal, espalhados pelo Brasil e fora dele. Em menos de dois meses conseguimos vender todos os números, fiquei alegre por tantos conterrâneos terem ajudado o jornal chegar em nossa terra, comprando e compartilhando a rifa. A cooperação coletivista e autônoma se faz desse modo. Enfim, depois de seis meses desde o primeiro contato, o jornal chegou a mim e ao Cariri cearense. Agora é sua vez de tê-lo em mão**.
*: Site da tenda de livros: https://tendadelivros.org/
**: Você pode comprar o jornal diretamente com Weverton da Silva, contactando-o pelo instagram: @cw_antifa ou via WhatsApp: 88999692765