Por Vitor Abreu - 16 de fevereiro de 2020
Por pensar que era cura, já duvidei da arte. Hoje sou um homem de fé, não porque
estou curado, mas por perceber que a arte é uma ótima distração antes de
matarmos a nós mesmos.
A arte se expõe! Na obra, o que mais aparece é o artista. A arte é extensão de si, é
fazer da obra um alter ego, um outro eu, um eu no outro, um eu dos outros. É a
tentativa desesperada de fazer-se durar. É a batalha paradoxal do vir a ser contra o
tempo.
Quando escrevo, minha alma é uma puta. É a liberdade vadia que me atravessa, é a
liberdade da vadia que me atravessa É um grito roco e mal educado, são palavras
que propositalmente se dão fora das métricas. Ainda assim, uns chamarão de
ensaio, outros, poesia, contudo chamarei de “grito”, tal como a obra do Edvard
Munch.
O desespero no semblante que se verbaliza, as dores sufocantes que clamam por
um olhar, o fardo e o gozo do desejo, (e do desejo de ser desejado). Tudo isso de
algum modo transborda a alma, seja pelo corpo sintomático, seja pela arte, ou
ambos.
Me debruço nas palavras, mas ainda são os meus pés e cotovelos que sustentam o
peso daquilo que eu sou. É aqui onde eu grito, mas ainda não é aqui onde eu choro.
Nunca serei bastante para a arte, tal como a arte nunca será suficiente para mim.
Luis Vitor da Silva Abreu
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