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A FORMA COMO LIDAMOS COM A PANDEMIA EM UM ASPECTO FILOSÓFICO.

Por Janaina Figueredo - 19 de setembro de 2020

 

Historicamente já vivemos muitos períodos sociais demasiadamente difíceis. Nesse sentido, um acontecimento modifica não só as nossas expectativas em relação ao futuro, mas também o nosso modo de compreender os encadeamentos entre os eventos passados. Para expressar essas mutações, o acontecimento também exige uma nova linguagem, uma nova maneira de pensar para compreender as relações e novas maneiras de lidar e externar o que nos propomos ou sentimos. Esses acontecimentos históricos desencadeiam uma variedade de palavras, expressões, debates, imagens, símbolos e discursos que vão se arranjando para tentar dar sentido e explicar o que se passou ou está se passando, formando assim enunciados que tentam dar conta de narrar e explicar a situação caótica que ainda não ganhou uma forma inteligível, com relações causais demonstráveis.


Dentro dessa perspectiva, buscamos meios para melhor compreender as formações e deformações da realidade em seu próprio movimento, para que assim, possamos saber como nos relacionar com esses processos, os afetos que eles geram, as subjetividades que neles se formam, etc. A conjuntura vivida pela sociedade hodierna, indubitavelmente, ocasiona nos seres humanos consequências psicológicas avassaladoras. O medo, a angústia, a luta pela vida, as incertezas de saber se amanhã ou depois do agora podemos estar bem, é o que nos move ante a todo o processo pandêmico mundial. A respeito disso, podemos ver como as diferentes formas de contenção, do confinamento, assim como o aumento do número de casos nos países causa impacto direto ou indireto no interior das pessoas. Portanto, podemos também afirmar que a pandemia afetou o mundo inteiro de maneira demasiadamente catastrófica, sem fins exatos e sem certezas de que isso irá passar logo. Assim sendo, é óbvio que todo mundo vai falar disso. Filosoficamente ou não, há a necessidade de debatermos até que ponto estamos indo. Estamos confinados, sem nossa liberdade social, mas seria essa uma prisão que nos liberta!?! Esse é agora o tema que mais preocupa a todos nós.


Notadamente, na era da informação, existe caoticamente a ausência dela. Isso parece contraditório. Porém, atravessamos muitos colapsos, entre eles, o intelectual. Não vivemos em uma sociedade leitora, o que consequentemente torna tudo mais problemático em tempos como os nossos. O comportamento dos seres humanos diante de um processo pandêmico catastrófico é de extrema importância para pensarmos e analisarmos filosoficamente tal questão. No que se refere, cada indivíduo está repensando suas subjetividades, comportamentos sociais, virtuais, psíquicos, ou seja, o interior, o “Eu” das pessoas está sendo totalmente afetado por situações externas. Com base nisso, é importante ressaltar que a Filosofia tem papel fundamental nesse processo pelo qual estamos passando. Pode ser que qualquer discussão filosófica agora não passe de um imbróglio narcísico e estéril cheio de especulações absurdas e sem noção. No entanto, com certeza há todo um terreno existencial pelo qual compreendemos a nós e, além disso, nosso contexto particular que não será exaurido por termos técnicos e médicos. É nesse terreno que se forma as definições, as narrativas, os valores, explicações que irão orientar as nossas decisões éticas e políticas e, principalmente, o nosso modo de se situar nas diferentes esferas da nossa existência.


Pensando no aspecto filosófico, provavelmente quando Deleuze escreveu o ensaio “Post-scriptum: sobre as sociedades de controle” no início dos anos 90, isso poderia não fazer muito sentido naquele contexto, principalmente nos países em que o acesso à internet e tecnologias de comunicação ainda era muito escasso. Hoje isso se tornou um paradigma para compreender as atuais formas de poder. Pensando dessa forma, o problema talvez não seja o delírio, mas qual a forma de delirar, ou seja, como delirar o meu delírio!?! Partindo desse pressuposto, as ilusões muitas vezes são construídas com grande esforço de raciocínio, causando um processo intenso de transformações. Com certeza isso provoca uma sensação vertiginosa em que não sobra muita coisa bem fixa para se orientar. Em contrapartida, após essa irrupção traumática de mudanças, novos hábitos vão se assentar. E é justamente isto o que a filosofia tenta captar e ela tem a maior probabilidade possível de errar. Entretanto, será plausível encontrar nesses erros o maior aprendizado possível, ou seja, outra imagem de tudo que se passou e do que agora nos assombra. Isso consiste em dizer que estas esferas estão agora em mutação. Dentre as áreas que nos conduz a questionar, a Filosofia é uma das principais candidatas a reinventar os modos de habitar esse terreno, fazendo com que possamos recompor as novas formas subjetivas e compreender novos desafios.


A despeito, qualquer doença, seja ela física ou psíquica, nos direciona a um estado de espírito distinto. Concernente a isso, Nietzsche certa vez disse que a busca obsessiva pela saúde pessoal é o caminho certo para a decadência do ser humano. Isso faz sentido, uma vez que um ser perfeitamente saudável se torna vaidoso, indolente e o pensamento, no mais das vezes, reflete sua obsessão com a manutenção do eu narcísico. A doença, portanto, não só é um tônico da vida, como nos força a sair da nossa zona de conforto e começar a pensar a partir dela. Todos fazemos de tal forma como meio que nos mova a um terreno mais brando, mais ameno. Seria o corpo doente como perspectiva sobre a saúde normal!?! Só sentimos o corpo quando ele se impõe a nós. Dessa forma, poderíamos extrapolar o aforismo nietzschiano para pensar como uma epidemia faz emergir verdades antes colocadas para dormir pela normalidade social. Inúmeras questões podem ser confrontadas sobre esse aspecto subjetivo, por exemplo: Se uma epidemia só nos leva a pensar numa catástrofe, qual a distância que estamos de um pensamento apocalíptico!?! Que resta a pensar, sentir e fazer, quando tudo o que acontece é sinal do fim iminente, de um totalitarismo galopante e inescapável?! Talvez as reações sociais e políticas de pânico, raiva e preconceito poderiam provocar, inadvertidamente, consequências positivas!?! Será que não poderíamos inclusive imaginar quarentenas libertárias, que nos livrariam das exigências sufocantes da civilização moderna!?! Essas são questões que podemos trabalhar dentro de nós, nos confrontando diante de um momento em que não sabemos até quando podemos viver. Lutar pela vida tem sido nosso combate, mas a forma de como nosso interior lida com o externo se faz de extrema necessidade e podemos fazê-lo.

 

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