top of page
Posts: Blog2
Foto do escritorBlog

A boniteza de ser gente

Por Camila Alves - 04 de Abril de 2020

 

Não venho falar nada novo e por isso mesmo se faz necessário. Tantas vezes já nós disseram e continuamos sem ouvir. No momento em que escrevo o mundo está quieto lá fora e também aqui dentro.

A modernidade e seu apelo pela racionalização de tudo tem nos passado a falsa impressão de que temos o controle de tudo. Não temos. Continuamos acreditando que o poder que produz separação (proposital) é capaz de nos livrar dos males criados por nós mesmo enquanto andamos perdidos na busca por um ideal de felicidade constante que também inexiste.

Quantos telejornais nós assistimos atônitos com as barbáries mundo a fora, mas o final da edição nos devolveu o frenesi em busca do próximo carro, da próxima festa? Quantas vezes escrevemos metas de realizar trabalhos voluntários na véspera de um réveillon qualquer mas que nunca saíram do papel?

Existem muitas analogias bonitas para tratar da indiferença coletiva que experienciamos há muito. Modernidade líquida para Bauman, banalidade do mal para Arendth. Hoje quero propor a reflexão a partir de duas metáforas: a de Narciso e do Efeito Borboleta*.

Nosso personagem antigo com seu desventurado destino de apenas poder apaixonar-se por quem não pudesse corresponder, faz um paralelo perfeito com nossas relações superficiais modernas. Narciso ao ver o próprio reflexo na água encontra mínima correspondência ao sorrir ou acenar ao ser amado, mas sempre que tenta tocá-lo, tocando pois a superfície do líquido, a imagem se distorce e quase se desfaz entre as pequenas ondulações.

O Efeito Borboleta traduz a ideia que de o bater de asas de um ser pequeno e frágil como uma borboleta, em um hemisfério do mundo, pode ocasionar furacões em seu correspondente oposto tendo em vista suas reverberações.

Nosso planeta, em pouco tempo de isolamento social, já da sinais de recuperação. Vide os canais de Viena agora cristalinos ou o céu de São Paulo.

O que quero dizer com tudo isso é que a mudança dos nosso padrões não só é possível como também não é difícil. A exemplo de Narciso temos vivido constantemente na superficialidade até que algo aconteça e nos obrigue a olhar as coisas de um outro jeito e pensar nas reformas necessárias. O Efeito Borboleta nos ensina a como caminhar daqui para frente. Não é difícil que cada um de nós saiba de pelo menos uma boa ação ocorrida durante este período atípico, e do quanto pequenas ações fizeram e fazem muita diferença. Precisamos apenas nos desapegar da ideia de que necessitamos ser destaque em tudo que fazemos, ou o melhor seria não sermos (fazermos) nada. Os sinais de recuperação ambiental do nosso planeta nos dizem o que a muito esquecemos, esmagados pela massificação: somos uma comunidade.

Como boa historiadora, não poderia deixar de dizer que o momento entrará para a história. Não pela sua presumida relevância que a faz digna de fazer parte dos livros, mas porque, finalmente, despertou em nossa consciência coletiva traços comunitários e mesmo agora é possível alienar-se. A questão então é muito mais de decidir pelas reformas, ou continuar sem refletir onde o controle moderno venceu em nós.


 

*Efeito Borboleta: é como ficou conhecida a Teoria do Caos do meteorologista americano Edward Lorenz. Ele desenvolveu fórmulas matemáticas para prever as consequências das movimentações das massas de ar, e explicou tais conclusões com a analogia de que o simples bater de asas de uma borboleta poderia causar furacões em lugares bem distantes do epicentro de tal evento. Em suma prevê que eventos aparentemente sem importância, podem ter impactos de ordem não prevista.

 

120 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

1 Comment


julianadoc_
Apr 06, 2020

É necessário que exista mudança, fico com a esperança de que vamos enxergar esses erros.

Like
bottom of page