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São tempos difíceis para os sonhadores, ou da necessidade de escrever

Por Ismael Lima - 07 de Setembro de 2019


Esse texto, muito provavelmente, não é de interesse de nenhum dos bolsonaristas que costumam ir nos canais de esquerda reagir às inúmeras publicações que criticam e condenam os discursos e práticas daquele que reverenciam como mito com palavras agressivas e ameaças diversas, porque o ódio nutrido por eles que alimenta toda forma de violência praticada é o máximo que eles podem oferecer, nada mais.


Mas eu não quero falar para estas pessoas. São quase duas da manhã e eu achei que deveria escrever para aquelas pessoas que estão cansadas e desanimadas com tudo isso que temos vivido ultimamente. São tempos difíceis, sim, não podemos negar. Mas, é justamente por serem tempos difíceis que não podemos nos entregar sem lutar. Pode parecer clichê, mas é a verdade: só a luta muda a vida.


São quase duas da manhã e eu estou muito cansado. Há tempos eu não fazia uma faxina no meu quarto (sim, agora eu tenho um quarto!). Meu corpo dói. Porém, muito maior que o meu cansaço físico, é o meu cansaço mental e emocional. E eu acredito que você também esteja um tanto cansado psiquicamente. Aqueles que não estão, ou ainda não entenderam nada do que está acontecendo, ou estão confortáveis do lado de lá.


Além de todas as nossas questões mais rotineiras e pessoais (casa, família, trabalho, relacionamentos, faculdade), temos hoje, de uma forma agressiva até, eu diria, a conjuntura política brasileira (não vou esticar baladeira para o cenário mundial, porque eu acho que já temos coisa demais para nos entristecer), que nos afeta, como nunca na história desse país nos afetou. Ledo engano. A diferença é que hoje, no Brasil, o Véu de Maya foi rompido, as portas foram escancaradas, os espelhos refletem o real. Vivenciamos o Brasil de fato, dividido, como sempre foi e como sempre há de ser. “A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”, já dizia o velho barbudo, Karl Marx.


Mas, nem todos ainda conseguem enxergar tais reflexos. Nem todos ousaram olhar para além das portas escancaradas. A realidade para alguns ainda segue encoberta pelo véu. Alimentados pela ilusão e pela farsa do mito que criaram, eles, que estão do lado de lá, ainda não conseguem enxergar e perceber quão abjetos são seus pensamentos, discursos e práticas.


Aqui, porém, eu não quero falar deles. Quero falar de nós. De nós que, assim como eu, estamos cansados, e que somos abatidos a cada injustiça praticada, a cada retrocesso imposto, a cada ataque aos direitos adquiridos a duras penas. Nós, que seguimos inquietos sem saber quem mandou matar Marielle, nem onde está o Amarildo. Nós, que nos indignamos e exigimos liberdade para Lula, para Rafael Braga, para Preta Ferreira e outros tantos. Eu queria falar de nós, que sofremos com a Amazônia e com os povos indígenas, que ocupamos as ruas contra os cortes na Educação, as intervenções nas Universidades e a censura na produção cultural deste país.


Sim, eu quero falar de nós, que estamos cansados, mas também quero falar de nós, que ainda estamos vivos, e que seguimos resistentes e nas lutas. Não iremos nos entregar tão facilmente. Não quero que você se entregue. Coloco Quintana na primeira pessoa do plural e falo sobre todos estes que aí estão atravancando os nossos caminhos: eles passarão, nós passarinhos. Sim, voaremos alto, pois livres somos e livres queremos todos aqueles que lutam por um país mais justo, equitativo, democrático.


Sim, eu sei que estamos cansados, e eu compreendo esse cansaço, mas não podemos desanimar. Tendo lido Maiakóvski esses dias, me chamou a atenção e ficou gravado em mim: “Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas”.


Atravessemos. Não desistamos. Resistamos cada um nos seus espaços cotidianos, junto aos nossos, que também estão cansados, mas que também resistem e lutam. Nos meus quase vinte anos de experiências artísticas, por exemplo, hoje eu sei, mais que nunca, quão necessária e urgente é a arte. “A arte, em tempos sombrios, é o que ajuda a salvar a humanidade dos autocratas e dos idiotas”, ensina Michael Moore. Para mim, que moro no sertão do Ceará, a arte é como chuva: qualquer neblina já revigora a esperança, traz novo ânimo. A arte também. “São os artistas que inspiram o povo a não desistir, a não entrar em desespero, a rir da loucura, a se erguer e derrotar a insanidade com amor”. Assim sendo, Fernanda Montenegro vaticina: ”O Brasil vai vencer pela arte”.


Façamos arte. Façamos a resistência. Façamos as lutas. A esperança vai vencer o medo, assim como o amor vencerá o ódio. Sim, o amor. Uma arma poderosa e necessária nessa batalha. O amor que nos congrega e nos une ao passo que nos liberta. O amor que nos permite enxergar o outro como nosso semelhante. Que nos impulsiona a estender a mão, a acolher no abraço. Que ameniza as nossas dores e cura as nossas feridas. O amor que é a verdadeira revolução, diria o filósofo. Sim, eu sei, é muito clichê para um texto só. Bem o estilo dessa esquerda cirandeira. Porém, “na luta de classes, todas as armas são boas”, afirma Leminski, “pedras, noites e poemas”. E todos os poemas, para mim, são poemas de amor.


Para finalizar meu texto que já se alongou por demais (já são quase quatro da manhã), eu compartilho Ernest Hemingway.


“– Quem estará nas trincheiras ao teu lado?


– E isso importa?


– Mais do que a própria guerra”.


A cada um de nós, do lado de cá, que não escolhemos o lado fácil da história, porque o direito de escolha sempre nos foi negado, sigamos juntos e firmes, pela luta, pela arte, pelo amor.

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