top of page
Posts: Blog2
  • Foto do escritorBlog

Parada II

Atualizado: 16 de mai. de 2021

Por Estrela do Sul - 18 de Abril de 2020

 

Dizem que após as 22:00 horas, coisas estranhas andam pelas ruas. Quem se cala, fala. E quem escuta, dorme. É como a Igualdade que o Dia só fez canções de morte, e a morte, diferente da vida, não dormiu. Falam que ela anda de madrugada, catando “almas”. Coisas estranhas andam por aí, é verdade. Depois das vinte duas... Uma jovem está posicionada de braços cruzados em uma parada de ônibus, olhando fixamente para a direção de sua chegada. Está acompanhada de um homem alto, e duas mulheres, dos quais nenhum conhece. Logo em seguida, ao avistar que se aproximava uma linha, sorri satisfeita e percebe que as três pessoas que a acompanhavam sumiram.

Ficara sozinha no ponto de ônibus.

*

A jovem vasculha a rua repetidamente e rapidamente. Em seguida, prossegue com a vigia, movimentando a sua cabeça de um lado para o outro, até cansar. Respira profundamente, e fecha os olhos. Começa a massagear o seu rosto usando toda a palma da mão. Nesse exercício, ela estica a pele em um movimento de dentro para fora, em seguida faz círculos. A maneira mais ou menos brusca de sua ação, causa a impressão de que seu rosto está sendo esticado e deformado, como se estivesse tornando-se outro rosto. Então, ela, abre os olhos e observa a calçada em que se encontra. Ampla, sem postes ou árvores, resolve se afastar da placa que designa o ponto. Caminha de forma despreocupada para longe dela. Um tanto afastada, se alisa, enquanto calafrios lhe cobrem, e se tornam lençóis.

Ela morde os lábios. Leva a mão a boca. Olha para o céu. Aperta o pescoço nas mãos. Seus olhos reviram, e ela não desmaia. Procura maneiras para sobreviver àquilo. Analisa os extremos da rua novamente, começa a amarrar o cabelo. Em seguida, assanha as sobrancelhas bagunça a sombra dos olhos retira os brincos e arranca por fim seu rosto. Inspira profundamente... come as próprias unhas, que caem feito agulhas por dentro. Dor no fígado no estômago nas tripas nos rins. Dor na alma. Que flutua para fora do corpo e boia no ar.

Na rua deserta, vem uma luz forte e barulhenta! A jovem, sem alma, surpreende-se!

*

Olha para a direção do ônibus, que agora é da luz, e que antes era só mais um horizonte sem poesia. E ela que antes, era uma pessoa, agora é só uma mulher. A luz então, fica mais forte e barulhenta, e a moça mais séria. O que fazer agora? O que fazer afinal? O que se pode fazer em um final?

-POR FAVOR, EU QUERO SUMIR... – PENSA ELA.

Mas a luz veio, e engoliu o escuro e depois a placa de sinalização. A jovem, feito uma criança viciada em pó (de leite), manteve o extinto de sobrevivência dentro de sua boca, e engoliu-o. Enquanto a luz a absorvia, ela sentia, um gosto de silêncio. Lá no fundo, queria ser como um vácuo, indestrutível por não respirar. Mas, ela era uma mulher, que antes era uma pessoa... Ainda com o rosto tampado, descobre-o. Percebe que a moto, era apenas uma moto. Ainda com o rosto tampado, descobre-o. Nada consegue ver. Desesperada, pisca freneticamente. Esfrega os dedos nos olhos, tenta expulsar o que entrara. Sacode as pálpebras para que caia, para a cegueira caia. Sem saber o que fazer com a visão defeituosa, bate na própria cabeça, como quem bate em uma televisão com defeito.

-Merdaaaaaaa! Burra, burra, burra de merda!- grita a jovem.

De repente, sua visão volta devagar. A paisagem de pouco tempo, agora era só um borrão sombrio. Atenta, retoma a vigilância, olhando para a direção da chegada de seu ônibus. Ao invés de avista-lo, a moça percebe que um vulto vem caminhando em sua direção. Retorna a roer as unhas, ora banquete, ora suco para a sede. E sem acreditar, posiciona suas mãos em prece de pai-nosso. E tal como um milagre, vê claramente! O vulto de outrora, em nada parece com Jesus... Ela então, resolve se afastar, gentil e educadamente. Sai andando, de ré, no mesmo compasso, do passo, do anti-cristo (que anda rápido).

A moça, desiste da sutilidade. Em vez de andar de ré, se põe a correr!

*


Ontem por volta de 22:00 horas, ela se encontrava na parada do shopping. Voltava do cinema, enquanto esperava o ônibus que atrasara. Quando vira um homem, de estatura mediana, corpo mediano, e afrodescendente. O indivíduo, apresentava uma coisa estranha em seu andado, como se estivesse armado. Vestia calça jeans e camiseta, e possuía um olhar penetrante. Ele a olhou fixamente. Seu olhar possuía uma coisa que não sabia explicar. Ela logo pressentiu o mau presságio, sentiu-se horrível, mas não conseguiu falar nada, nem pensar em reação alguma. A pobre fora abordada com um canivete em sua barriga, onde o indivíduo a ela se dirigiu com as seguintes palavras: - se você correr, morre! Sem alternativa, entregou-lhe o celular. Contudo, o indivíduo elogiara suas nádegas, prendendo com um braço o seu pescoço, aplicando-lhe uma espécie de mata-leão e alisando sua genitália com a arma que tinha em mãos. Lhe disse: - quero essa boquinha chupando meu pau. Em seguida, passou a mão em sua cintura, posicionando a faca, de maneira muito sutil em sua barriga. O corpo da jovem fora encontrado próximo ao poli esportivo. O homem, depois de obriga-la a fazer sexo oral, tomara seu celular, e apunhalou-a 05 vezes. Ela fora encontrada sem roupas, muito ensanguentada e o cocxis fraturado. Os peritos afirmam que a fratura fora ocasionada devido ao tamanho do membro viril do homem, que diante da resistência da moça, causo-lhe tal lesão. A sua família, clama por justiça. As autoridades comprometeram-se publicamente em prender o culpado por esse crime hediondo. Até quando essa impunidade prosseguirá? Mais uma jovem perece pela violência. Mais uma jovem impedida de realizar seus sonhos, de viver, de ser feliz, de ser


*

Ao olhar para traz, a jovem percebe que a linha do Tiradentes se aproxima. Em uma mistura de náufrago avistando o resgate, com cristão louvando deus pela graça, ela começa a acenar com os dois braços, sacudindo-os de um lado para o outro. Entra no veículo aliviada! Desamarra seus cabelos, limpa a mão suja de sangue na parte de dentro da blusa. Penteia as sobrancelhas com os dedos, em meio a dor de segurar o dinheiro, levanta-se e entrega-os ao cobrador, que mal a olha. Ela sorridente: - nossa, que demora! A gente fica na rua até essa hora, já é arriscado e ônibus ainda atrasa... o cobrador lhe responde: mais um ônibus quebrou! Ela disse:- ave maria, essas coisas nunca mudam? Mas, eu sei que você não tem culpa, boa noite! Ao sentar-se, repara que o rapaz de quem correra estava no ônibus. Ele a olha. Ela então percebe que ele na verdade voltara do seu trabalho no shopping. Ela o encara com meia vergonha. - GRAÇAS A DEUS, EU VOU VOLTAR PARA CASA! – pensa a moça e rapaz simultaneamente.

115 visualizações2 comentários

Posts recentes

Ver tudo
  • facebook
  • instagram

©2019 by Jonas Paulino. Proudly created with Wix.com

bottom of page